Bernardo acorda tarde, deprimido por ter acordado, angustiado por ser sempre tarde. Olha-se ao espelho, sem vontade de ser pessoa. Eis o que lhe resta: ser um escritor solitário no meio de uma pandemia. A imortal quarentena confirma todos os seus mortais desamparos: tem medo de não entender, tem pavor de não prever. Espreita, de viés, o relógio: afinal, ele sempre acordou tarde, deprimido e angustiado. Aliás, a angústia fica-lhe bem, é uma marca de distinção dos mais lúcidos, uma ruga na alma dos condenados a sentir a existência como uma doença. (mais…)
“Poesia é uma linguagem que traduz sonhos, mais do que propriamente pensamentos. E aí nós provavelmente somos muito mais parecidos, somos muito mais próximos, porque sonhamos todos da mesma maneira. (mais…)